25 de abril de 2010

À mão de ler (8)

«Enquanto o dia se vira e se desfolha entediado e indolente e o triunfo da mediocridade domina e acunha o enxame humano, guardamos as horas dentro da gaveta e zarpamos, proa altiva, até voluntárias derivas, belos naufrágios encadeados ao vento. Timoneiras dos nossos sonhos os dedos remam salobres de ar e fogo, dança aquática sob os lençóis. Do luto luzidio que lentamente lambias, deslizava prata doce e silente. A única âncora permitida: o coração.

Fendida, a tarde deita-se entre as searas.

O grito exibicionista e rápido dos falcões

(dizem que fazem amor em pleno voo)

arma-se o vento e me sacia de intempérie.

Vencida e condenada na idade da recordação,

a celagem de bronze da tarde

recolhe-me na ripa.

Que longo olvido que já não quer mais memória.»

Nora Albert (pseudónimo de Helena Alvarado Esteve), catedrática de línguas e literatura, ensaísta e tradutora, publicou Mots i brases (2004) e Tentacles de cel (2008), figura nas antologias Eròtiques i despentinades. Un recorregut per la poesia catalna amb veu de dona e Antologia de poetes eivissencs (2008).

[Antologia de Poesia das Ilhas Baleares / Rectal de poesia Casa Fernando Pessoa, 2 de Março 2010; trad. Ana Sofia Guerreiro Henrique e Anna Cortils Munné, catalunyapresenta]

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