27 de maio de 2010

À mão de ler (30)

«De manhã, Angela e Charles tomaram o avião e daí a duas horas estavam em Banguecoque. Eu tinha pela frente quatro horas de autocarro até Chiang Mai e depois uma noite inteira de comboio. Incómodo. Complicado. Mas a ideia de me manter firme no meu propósito continuava a divertir-me. Lembrei-me de que em miúdo, quando ia para a escola, caminhava pelo passeio obrigando-me a não pôr o pé no sítio onde as lajes se uniam. Se conseguisse totalmente, corria-me bem uma chamada ou escrevia uma boa redacção. Mais tarde vi outros miúdos fazerem o mesmo noutras partes do mundo. Talvez exista em cada homem a necessidade instintiva e primordial de, uma vez por outra, se impor limites, fazer apostas com as dificuldades, para depois sentir que "mereceu" algo que desejara.»
[Tiziano Terzani, Disse-me Um Adivinho; trad. Margarida Periquito, Tinta-da-China, Novembro de 2009;
ilustração: Jan Peter Tripp]

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