22 de junho de 2010

À mão de ler (37)

(Jorge de Sousa Braga)

2 comentários:

noni disse...

Meu século (vek moi)

Meu século, minha fera,quem poderá
olhar-te no fundo dos olhos
e soldar com o seu sangue
as vértebras de 2 séculos?

Enquanto vive a criatura deve
carregar as suas vértebras,
as vagas brincam
com a invisível coluna vertebral.
Como uma tenra cartilagem infantil
é o século recém-nascido da terra.

Para libertar o século acorrentado
para dar início ao novo mundo
é necessário reunir com a flauta
os joelhos nodosos dos dias.

Mas tens partida a coluna
meu pobre século formidável.
Com um sorriso insensato
como uma fera outrora flexível
voltas-te para trás,fraco e cruel,
a contemplar o teu rasto.
Osip Mandelstam,em 1923

noni disse...

..."Ingeborg Bachmann comparou uma vez a língua a uma cidade, com o seu centro antigo a que se seguem as partes mais recentes e as periferias,e,por fim,as vias circulares e as bombas de gasolina(...).A cidade e a língua comportam a mesma utopia e a mesma ruína, sonhamo-nos e perdemo-nos na nossa cidade como na nossa língua, ou antes, uma e outra são somente a forma desse sonho e dessa desorientação.(...)to be continued: Veneza está lá!

in "Nudez",de Giorgio Agamben.