13 de julho de 2010

Nem sempre a lápis (55)


Acabo de traduzir o último parágrafo da página 85 de Dublinesca – «Têm gostos literários coincidentes, desde Roberto Bolaño (com quem os dois conviveram amigavelmente durante uma época) até Vilém Vok.» – e faço o que tenho a fazer: abro o Google e pesquiso o constante autor de El centro. O nome soava-me desde a primeira vez que o li, recuperado entre o eco da população que habita Diário Volúvel, sem dúvida. Googlei-o na Web, sem grandes resultados para idêntica disposição, optando pela visibilidade da imagem; através delas, deparei-me com a curiosa coincidência de mais já andarem ao mesmo: «buscando a Vilém Vok». Acabei por me desinteressar dele, entretido a folhear dois blogues com direito a Favoritos; vitaminei substancialmente o pequeno-almoço, digamos assim. Num deles, Vortex, a autora deixa no ar a provocação de Vok ser o próprio Vila-Matas, e porque não? Não foi ele que disse numa entrevista, creio, mas refere pelo menos num dos seus últimos livros que Jorge Herralde, o seu editor até Dublinesca, andava a escrever o seu próximo romance? Fiz também o que faço sempre, ver o BI virtual do autor, o tal profile, onde se lê mais do que consta nos campos por cada um considerados como obrigatórios. Foi então que se me deparou esta coisa disparatada – ajudado pela tradução, hoje tive um dia muito disponível – de prestar mais atenção aos signos do que ao sexo, à ocupação, à idade, já me habituei, e verificar que a maioria não só o comunica, como o faz acompanhar pelo correspondente chinês; recebe, hospitaleira, a tradução, a dobragem. Falinhas mansas do marketing; nem lhes passa pela cabeça que começou tudo com o famoso e tão disputado embaixador cultural, o Livro Vermelho, responsável por transtornar irremediavelmente um número lamentável de jovens da minha curiosa geração e da caricatura que se lhe seguiu. Já me disseram, os mais informados, que o Vietname era para cotas; haveria qualquer coisa no Iraque, mas não tinham a certeza se viram em DVD. Entre tantas outras irreversíveis mutações, ocorreu-me a possibilidade da Net estimular um relacionamento – se é que já não existe, embrionado nos blogues – em que as pessoas passam a apresentar-se pelo signo: Gémeos, muito prazer; Escorpião, outra vez?, compatibilidades e aversões espontaneamente esclarecidas com beijos e abraços, com um voltar de costas e um par de coices, com sedução travestida de jogo à gata e ao rato. Gramava à brava ver, e acho que já vi a coisa mais longe do que o simples pretexto de me levantar para devorar – é o termo – um pastel de feijão e ligar o portátil; em brasa, pudera.
[Foto: Jorge Herralde; autoria que não foi possivel determinar]

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