18 de agosto de 2010

Nem sempre a lápis (72)

  Feitas as contas por alto, assim a olho, encontro-me a meia centena de páginas da orfandade; de terminar Dublinesca, embora com Blanco nocturno (Piglia) no horizonte. Para ser franco, nunca apreciei Exploradores do Abismo; em contrapartida, recebi Diário Volúvel no momento em que mais precisava do acompanhamento de perspectivas determinantes para a minha contínua apetência de «mudança de atitude»; nomeadamente, em relação à leitura de diários, até então circunscrita à coutada El quadern gris de Josep Pla. Quanto a mim, ninguém me tira da cabeça que Exploradores parece corresponder aos compromissos contratuais em que um autor se obriga a publicar um livro por ano. Com que autoridade afirmo isto? Com a que me permito ter alicerçado concluída a tradução do sexto título de um permanente exercício de reescrita. O material – chamemos-lhe assim, para gáudio dos medíocres detractores de Vila-Matas – poderá ser sempre o mesmo: a construção de um enredo, de uma narrativa estimulada por uma capacidade de citação que entreabre o interior de uma sucursal da Biblioteca de Babel muito exclusiva; a perseguição onírica do (impossível, improvável) desaparecimento, rumo a um centro pessoal caleidoscópico; a colagem ou reencenação – e não reposição; isso é estratégia de sociedade recreativa – de situações anteriormente escritas e, portanto, vividas por um grupo muito privado de autores, artistas, realizadores do nada, bartlebies ou não. Mas, com Vila-Matas, é sempre assim; «acaba sempre por aparecer quem menos se esperava», o que, a umas cinquenta páginas do final, com maior incredulidade se foi entrelaçando e se esperava.

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