26 de agosto de 2010

Nem sempre a lápis (74)

Mais dia, menos dia, tenho de ir a Huelva; e o motivo é simples, vou aos livros. Vou aos livros que, por cá, dificilmente encontrarei em português em tempo útil; vou aos autores que só sei ler em castelhano e catalão, espanhóis e outros. Quem não conhece a capital da província onubense, é natural que se estranhe arrancar de Lisboa disposto a morrer na praia; a menos de uma centena de quilómetros de Sevilha. Pois é, mas a capital da Andaluzia deve estar coalhada de turistas ávidos de tablao, pátios com gerânios, caleches atrás da catedral, revoadas de japoneses com máquinas digitais em riste. Atalhando a perspectiva: para se chegar à Casa del Libro ou à Beta, é preciso percorrer metade da calle Tetuán com predisposição para enfrentar provas de perícia. Em Huelva não há turistas nem Giralda, e gira tudo entre a rua pedonal, de que não recordo o nome beato, e a avenida constitucional, homónima no esquecimento. Nessa confluência, abrilhantada pelo bulício local das esplanadas de pescaítos e o apelo tabagista da esquina em frente, fica o santuário onde me penitencio, longe de Al Monte: a Librería Saltés. Há mais de dois anos que lá não vou, tendo-me abastecido com Firmín (Sam Savage) e Los cuadernos de Fritz Kocher (Robert Walser), pelo menos estes; o espólio encontra-se inventariado nos Blues. Tenho uma pequena lista mental, menos susceptível a desilusões do que se a escrevesse, para disparar à morena andaluza, logo à entrada: E como vamos de Pierre Michon, de Flann O’Brien, de Vilém Vok? E aposto que ela – enquanto a sigo até às possíveis estantes, onde esses não constarão (de momento; queres que peça?), mas constam os não previstos – vai pôr-se a adivinhar: Ou andas a traduzir ou acabaste Dublinesca. E está certa, vou aos livros a conselho de Vila-Matas; até para o ler mais, lendo os autores linkados ao longo do texto herdeiro da superior tradição joyceana. E é inevitável; ocorrem-me sempre certos blogues que se fartam de meter a palhinha na escrita do autor de culto. A questão, admitindo sobrevivência para considerá-la como tal, não reside na caricatura textual e nos encómios para se mostrar, exibir, como vila-mateanos; mas pelo equívoco com vila-matutanos, aperitivos ou apontamentos de segunda escolha. Setembro está aí, não tarda; já se sente «um fresquinho por baixo». Deixa-me só acabar a revisão e, enquanto folgam as costas, estás feita, Huelva.

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