1 de setembro de 2010

À mão de ler (76)

«O autocarro entrou em Fort Stockton às nove menos um quarto e Moss pôs-se de pé e tirou o saco de viagem que se encontrava na bagageira sob o tejadilho e pegou na mala de executivo pousada no banco e ficou parado, a olhar para a mulher.
Não tentes apanhar um avião com isso, disse ela. Eles metem-te na prisão e nunca mais de lá sais.
A minha mãe não criou filhos ignorantes.
Quando é que me telefonas.
Telefono-te daqui a uns dias.
Está bem.
Tem cuidado contigo.
Tenho um mau pressentimento, Llewelyn.
Pois eu cá tenho um bom pressentimento. Por isso, em princípio, o meu deve compensar o teu.
Espero bem que sim.
Só te posso telefonar de cabinas.
Eu sei. Telefona-me.
Eu telefono. Pára de te preocupar com tudo.
Llewelyn?
O quê.
Nada.
O que é?
Nada. Só queria dizer o teu nome.
Tem cuidado contigo.
Llewelyn?
O quê.
Não faças mal a ninguém. Estás a ouvir?
Ele olhou-a, com o saco de viagem a pender-lhe do ombro. Não prometo nada, disse. É assim que as pessoas se magoam.»
[Cormac McCarthy, Este País Não É Para Velhos; trad. Paulo Faria, Relógio d'Água, Fevereiro 2008;
foto]

3 comentários:

Cristina Torrão disse...

Gostei, obrigada :)

Ana Cristina Leonardo disse...

finalmente, a ler o mestre

fallorca disse...

É o tempo do Mestre do tempo ;)