24 de fevereiro de 2011

Nem sempre a lápis (137)

Se tivesse dormido em Mortágua – arranjava-a bonita, com o temporal que fez durante a noite e a manhã –, o jantar seriam uns tordos caçados pelo meu primo no fim-de-semana. Comidos e chuchados à mão, a perguntar a como estão agora; se os comprou ao quilo ou à unidade. Mais novo semana e meia, permito-me desviar-lhe a mira quando se põe a armar ó adulto. Enquanto bebíamos um café na churrasqueira ao lado do hotel, o Nuno Monteiro convidou-me para jantar com eles. Eles, serão as pessoas ou parte das pessoas que se empenharam para o que me espera e só quero saber no momento e enquanto ele decorrer; sobrevivência garantida. Ontem, já tinha visto a miragem da vitrina, aspirado no ar o sabor da grelha, a beber meia de leite com uma complacente fatia de bola de carne. Não cometi a indelicadeza de recusar, lembrei-lhe apenas que não me sinto à vontade a comer em público tudo o que exceda uma torrada, uma sopa; vá lá, um peixinho da rocha só com legumes. Como tem trinta e cinco anos demorou uns segundos a entender, compreendo; também me lembro do incómodo de ver as pessoas a metralharem gafanhotos, com o coice da prótese. São seis e meia da tarde, daqui a duas horas vêm buscar-me; vou à churrasqueira fazer de conta que como qualquer coisa. Só espero não ter de falar muito para a corega não me trair; sempre à mão, no bolso. Não faltará, por certo, oportunidade de voltar a ocupar-me deste assunto. Vens comigo, Walser?

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