24 de fevereiro de 2011

Papiro do dia (35)

«Mas todo o elemento comum pressupõe uma série de seres isolados, distintos. Antes deles, isto não era senão um todo desprovido de relação, mesmo consigo próprio. Não era nem pobre nem rico. Desde que algumas dessas partes se distanciam da unidade maternal, entram em oposição com a mesma; desenvolvem-se afastando-se dela. Mas ela não as larga da mão. A raiz faz questão de ignorar os frutos, o que não a impede de os alimentar.
E nós somos como os frutos. Pendemos do alto de ramos estranhamente tortuosos e suportamos bem os ventos. O que temos é a nossa maturidade, a nossa doçura e a nossa beleza. Mas a força para tal emana de uma raiz que se propagou até cobrir mundos e mundos em todos nós. E, se quisermos testemunhar a favor do seu poder, então devemos utilizar, cada um, o nosso mais solitário sentido. Quanto mais solitários houver, mais solene, comovente e poderosa será a sua comunidade.»
[Rainer Maria Rilke, Notas sobre a melodia das coisas; trad. Sandra Filipe, Averno, Janeiro 2011;

1 comentário:

Anónimo disse...

Essa menina tem as minhas bochechas :)

Amo Rilke.

O que temos é a nossa maturidade, a nossa doçura e a nossa beleza. ^^