26 de julho de 2011

Nem sempre a lápis (192)

Não tenho ideia de alguma vez me surpreender e doer, ao ler o meu nome escrito a seguir a um adeus: «Adeus, Jorge». A dimensão da expressão de marca do Lima Barreto também contribuiu para que eu lesse o meu nome, a despedir-me de mim; no blogue. A notícia feriu-me os olhos ao acaso, a dar uma volta pela Net. Se fosse vivo, o meu irmão faria sessenta anos no sábado, dia 9; abalaram os dois no mesmo dia da semana, sem o Jorge ter feito a idade que lhe correspondia pelo ano em que nascemos: 1949. Fui pensando nisso, a praticar mikado com números, a fazer horas para ir até ao Bartleby ouvir música sufi, com a harpa e o alaúde persa reconciliados. Desta vez levei o carro e estacionei por ali perto. E lembrei-me, claro, que o Jorge vivia ou viveu na Rua da Imprensa Nacional, enquanto bebia um café ao balcão. Vejo entrar o José Amaro Dionísio e ficámos ali um bocado a acertar as agulhas do tempo, antes de descermos para a cave; que ele não conhecia. Trocámos os bancos ao balcão, pelas cadeiras da mesa; às carnes já não são as mesmas do Jamaica. Éramos os sobreviventes da malta dos jornais e da rádio nos anos de brasa, Cervejaria da Trindade e Monte Carlo e Bolero; o que interessava era a Revolução. Posso estar enganado, mas não creio que o Jorge tivesse apreciado muito a audição; posso estar enganado, e estar ainda a ouvi-los conversar sobre Música. Vivendo ali na rua, não me admirava nada se fosse a casa buscar um sintetizador, eu sacasse das Parábolas Sufi (Rumi) e ainda estamos; onde estivemos sempre, Jorge.

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