4 de novembro de 2011

Nem sempre a lápis (224)

Posso dizer que fomos à Feira de Castro tirar fotografias e ouvir uma tagarela caída na mesa ao lado, durante uma pausa sem nada feirar. Ainda comentei com os sobrinhos: não tarda, são primas. Adoro diálogos; neste caso, entre uma algarvia de Silves e alentejanos de Castro Verde. Mas quando lhe respondi que sou da Beira, por pouco não terei sido fotografado pelo marido – «que Deus tenha em descanso», desabafou – em Santa Comba Dão. Afastei-me da proximidade a ver comércio de alho, ponderado pelo elemento de um rancho folclórico que voltou atrás, temperado ao primeiro olhar; a banca de autor do livro exposto e médico especializado em medicina natural, «não julgue que isto é chá do Zé da Aldeia», lia-se nos vários diplomas; clãs de ciganos de luto sentados em círculo, sem saberem a idade da cachorra por «não ter bilhete de identidade»; mãos demoradas por peças de chita e cretones e alinhados e pano-cru, a metro; peguei num alguidar de barro vidrado para sentir outra dimensão e outra idade; eu a ver e a Nico a disparar. Jantámos empoleirados com vista para os toldos e fomos negociar um casaco de malha, agasalhado assim que o vi, nas tintas por não haver o tamanho em intracite, a sugerir outras cores. Era aquele; antes um por vinte euros que o bom negócio de três por cinquenta. Experimentei-o em casa, estupefactos com a intromissão do Verão na segunda quinzena de Outubro. Prenúncio nada bom, já observado pelos campos calcinados e a lama nas reservas de água, quando vim de autocarro. Tenho feito praia, mas hoje não apetece; ouvi um patrão dizer que o vento está a mudar, no Naval. Os dias encolhem mais depressa do que a vontade de ficar por casa, quase sem Net, acompanhado pela modorra dos cães a ver a mesa encher-se de pilhas de livros e que a Nico os traga sem procurar. Faziam-me jeito as capas e as baguetes, para me ler impresso no papel e substituir inéditos abandonados, quando parti.

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