19 de março de 2012

Nem sempre a lápis (268)




Começou tudo – ou tudo começou? Nunca sei bem e é indiferente, pois o resultado final é sempre certo. – Tudo começou com um ruído imperceptível, um vago chilrear demasiado trinado para ser real. A loucura apresentava-se, com coro e orquestra virtuais, pontualmente ao fim da tarde. Instalava-se na sala com uma languidez desconcertante, à espera que o declínio da luz lhe desse forma. Órfã de parentesco kafkiano, era uma loucura estritamente pessoal e cuidada, dir-se-ia familiar e congénita. E era aqui que se instalava a incompreensão. A loucura não se conformava que lhe fosse prestada uma atenção meramente literária, alheada dos escombros reanimados à sua passagem. A proeza repete-se rigorosamente todos os dias, até um dia ficar para a história.

Sem comentários: