7 de agosto de 2012

Nem sempre a lápis (306)

Animais domésticos
(1970/1980)

11. Fiz a aprendizagem lenta das águas, quando vinha da escola. Não sei que voz inspirava a minha, que se tornava íngreme à medida que atravessava os meses atrás do exame. Quando queria falar dos terríveis ensinamentos das águas, a minha voz era uma paisagem multiplicada. Desatenta, a escola tombava o rosto que as letras arrancavam dos textos. Uma janela incendiava a parede branca. A vila adormecia domesticamente no seu sangue fervido.
Que rosto assomava à janela, enquanto dormia?
A circulação é exterior. O sangue vibra nos cadernos de exercícios, e a loucura estende-se sobre as carteiras de castigo. Então a aula assiste à evolução da fonética para baloiço ou pião, e a palavra INTERVALO treme junto à porta que o vento transpõe.
Sem que ninguém o saiba, à noite os peixes abandonam a água e passeiam pelas ruas vazias. Se uma janela se acende é porque uma criança foi tragada por um peixe, que lhe esvaziou o sono.
Na manhã seguinte, fala-se de uma beleza terrível a que só o mês de outubro põe fim.

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