2 de março de 2013

Nem sempre a lápis (351)

até Jajouka
(2006)
11. Para evitar detestáveis equívocos e pedante destino, esclareço desde já que conheço Marrocos muito mal. (...)  contam-se pelos dedos de uma só mão as vezes que passei uma tarde no Café Hafa, empoleirado nos socalcos abertos na falésia a beber um chá; ou que fui lá apenas para fumar um sebsi sossegadamente. (...) E, para minha surpresa, foi isto que senti há trinta anos, quando fui pela primeira vez à feira do Algoz – o nome já era promissor –, e reencontrei, estupefacto, uma réplica do Petit Socco. Naturalmente regido por outros códigos, insuficientes para embaciarem a nitidez da origem nesse ofuscante contraluz de Setembro. E vi negociar o impensável para a minha condição de beirão; um grupo de lavradores a avaliar silenciosamente e com mão sábia, a maleabilidade, o comprimento, o rectilíneo irrepreensível das varas minuciosamente escolhidas de um molho.
Para varejar a azeitona, a amêndoa, a alfarroba?
Quando lá volto, na ilusão de reencontrar a simplicidade do espectáculo, nunca o exotismo, apanho-me a ponderar esta dúvida, que gosto de conservar como legenda intocável de uma memória em desuso.

Sem comentários: