31 de março de 2013

Nem sempre a lápis (357)

até Jajouka
(2006)
17. Sejamos francos, haverá alguém que resista ao convite para comer um balde de sardinhas assadas no quintal de uma casa empoleirada na falésia da Senhora da Rocha? (...) Apreciei-lhe a perspicácia, que procurei retribuir ouvindo com atenção os comentários ao Portugal / Inglaterra da tarde anterior. Cheguei ao ponto de rebuscar na memória esse jogo visto num café em Mortágua, quando era muito miúdo, e a única coisa que recordo com nitidez – tanta quanto permitia a televisão a preto e branco e o emissor da Lousã –, era que as duas equipas se limitavam praticamente à aura que rodeava dois adversários, Eusébio e Best, e que um dos espectadores volta e meia tirava o chapéu da cabeça e roía-o de raiva.
E ai de nós se nos ríssemos de coisas sérias!
(...) Nesse tempo, o comboio ainda marcava o ritmo da vida de Mortágua de forma determinante. Havia uma automotora matinal, que a minha mãe utilizava para ir a Coimbra ao médico e às compras – partilhada pelos passageiros da camioneta de carreira que fazia a ligação entre o Caramulo e o comboio – e regressava no das Sete. (...) O ciclo diário de Mortágua encerrava com a passagem demorada do Correio, entre as dez e meia e as onze horas. Foi durante uma dessas tiragens que vim ao mundo – com uma certa relutância, frisaram-me sempre bem – no Verão de 1949.

Sem comentários: