5 de abril de 2013

Nem sempre a lápis (358)

até Jajouka
(2006)
18. O meu pai resolveu fazer oitenta e dois anos – a fazer fé na hereditariedade, a proeza não augura nada de bom para mim – e estou outra vez em Mortágua. (...) E então apanho-me a considerar a proximidade da minha velhice, se tiver a pouca sorte de vir a ser Velho, com maiúscula, velho a sério. Se tiver a pouca sorte de sobreviver às pessoas com quem me relaciono, nunca poderei recorrer à desculpa – bem pelo contrário – de não ter ninguém do meu tempo com quem falar, porque não falo, o que se chama falar, praticamente com ninguém. Se entretanto não for descobrindo novos autores capazes de ocuparem a minha atenção, o que francamente duvido, resta-me sempre a possibilidade de continuar a reler (às vezes, ainda com mais prazer) alguns dos livros que fazem parte, digamos da minha vida, e não são de maneira nenhuma uma alternativa para um vazio em que não acredito, nem para uma solidão que ambiciono e persigo.

4 comentários:

Miguel F. Silva disse...

excelente texto Jorge...uma reflexao que me fez pensar muito nos meus velhotes (todos eles).

Um grande abraço

M&M

fallorca disse...

;)

Cristina Torrão disse...

Que bonito!

fallorca disse...

Obrigado, miúda :)