30 de junho de 2013

Este é-buque que vos deixo (2)



não há silêncio numa folha em branco :
refém de um trrrim : écran verdelíbido quespicha a manhã emurcha a madrugada : seca a solidão da noite : cabouca salpicada de pin’s : interrupções : hemorrágica falha de linha : gangrenado :
julgou reconhecê-la no signo egípcio representado pela pena
«o que tudo traça» : no seu próprio «pequeno pedaço de parede amarela» : sequência de visões dignas de certidão de óbito :
também os pacientes de melancolia se incluem entre os degenerados que alcançaram esse estado especial, caracterizado pela ciência e a filosofia alemã como dasen ohbe leben :
derradeira oportunidade dos objectos manifestarem a sua aura : antes dos Nomes : olho plúmbeo e gelado que os mantém amarrados ao chão : afugentando os Nomes : escorraçando-lhes as cores :
«o irreparável já
aqui está…» : o pôr-do-sol não era muito mais atraente do que o seu longo e monótono périplo sobre as nossas cabeças?
quadro feito não de cores mas com o Nome das cores : Nomes iluminados : e a cor ressoou no quarto com a brutalidade da luz mencionada :
água :
manancial oculto no próprio Nome de onde brotava : Muro sou, e os meus seios são como torres. Assim me tornei aos seus olhos como quem encontrou a paz : asno sarnento a ruminar um livro : ovo projectado no ar pelo silvo das serpentes : picado pelos espinhos ígneos dos ouriços : ostra aberta ao sol :
secante tumular :
ovo surgido da essência dos cinco elementos primordiais : alado
ovalado : pégaso :
hylé :
chama vertical valoroso e frágil : constrói a sua casa como a aranha :
a morada da aranha é a mais frágil das moradas :

paletartudida no recato da solidão : OBuses cor de placenta : centos de crónicas dágua feminina : um ovo? : Nome gorado pela pena que traça : empurra o horizonte : late com um latido à dimensão do chat oculto no log : propriedade do lodge : solidão jurássica : mente
ausente no manancial do olho : três
olho dado : trespassado pelo asno que lê : rumina : um livro sarnento na secura sardenta do crepúsculo : périplo monótono a noto :
não há silêncio numa folha em branco : pregão do esparto e da incredulidade : servem de repasto às aves : à sofreguidão urbana : aquecem a luz ausente :
as palavras têm a intensidade ambígua do poente : rio dentro de uma vaga : a escritravessos limites do frio : a vocação da fome :
servem de repasto à arrogância : ao medo : o relógio da igreja anuncia um tempo ignorado : último anel aberto pela pedra que se esconde no esquecimento : p’raca
respiração da chuva apodreça o ar : dobre os telhados : afine o voo pelas rotas do Sol e da abundância : pira de fumolento vigiada pelaridez alquímica dos carvoeiros :
na escrita do vento e da distância : voz da ausência : concerto de moscas enlouquecidas pela resina : ferramentas da ausência e do tédio : enxofre soletrado pela febre e a caça :

gado enrolado na cauda : ninguém se debruça no vazio para escutar uma lenda : ninguém chega do rio : ramo de peixes a gotejar
no soalho : rodapé africano com que justificamos a história :
a solidão : só a cortiça
pactua com a memória : solidão bordada a folhelho e sobras de sol :
os carris fervem nos canteiros : apeadeiro da adolescência : mandala de cinzas sobre a mesa :
mesa posta para o repasto da cultura :
mãos que recolhem cinzas como quem esbanja arco-íris ancestrais : areia devorada pela arrogância europeia da solidão : como se esfolasse a carepa da memória :

quanto tempo demora a chuva : comenvelhece um gesto renovado pelo silêncio : as palavras dão-te fruto
na bocaparecem-te manchas : os subterrâneos sustentam as trevas : em breve serão um animal com a cauda adormecida : exacto e inteiro às portas do ar : tão azul : a água tão
levaté onde sangra : voz precipitando a boca venenosa : traduzida
para as frases mortas das paredes :
fotografada pelolhar horrorizado de uma criança :

o vento nunca nos devolve a voz porque
o eco devora as palavras : silêncio à tona
do sono : à boca
das cisternas habitadas pelo som que não sacia : repetem a demanda juntao sono :
lugaresatravancadospelasecura : ilhas da memória : procissão rural das bestas sobrevoada pelas aves recortadas
na distância : os barcos içam a Lua no pavilhão :
para lá da enseada é tudo novo e desconhecido : cardumestilhaçam alinha dorizonte : itinerário gravado no mar : nos cardos trémulos : tecidos debruados a púrpura e açafrão : novelos do desejo : lata de cal derramada no azinal : arquitectura do sonho e da levitação : a secura calcina a sofreguidão : a cultura do pesadelo : pátios onda calamadurece : perpetuado pela condição periférica : a tradição tribal : vista do cansaço do oceano : o absurdo do sonho :
a enormidade do pesadelo : a voz húmida :
irrompe da terra : a casca estala sobo Sol : sombra da sede gravada no xisto : conserva o verde das folhas curtas dobradas pelo calor : a
nota dobada napa ginação feminina : corte de crónica : alinhavada com OBuses antes de usar :
não há silêncio numa folha em branco

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