25 de julho de 2013

Nem sempre a lápis (379)

Sueste
 
1. Enquanto a manhã se consome a devorar resíduos de Lua, os cães farejam o ar sujo e denunciam as mulheres derreadas a caminho do mercado.

Cheira a pão fresco e roupa a corar – cheira a sabão,
as laranjas crepitam sobre a mesa,
os cavalos pastam junto à estrada requentada – alheios ao bulício na pedreira.

As crianças espezinham as flores que incendeiam a sarjeta – disparam armas imaginárias, apuram a vocação predadora –
abandonados na valeta os jornais escancaram imagens subitamente envelhecidas
e a brutalidade do sol debota-lhes a actualidade.

O lixo desaloja a água da fonte no meio da praça
os gatos disputam a ilusão de frescura do tanque, onde já ninguém se debruça para refrescar a cara e ajeitar a expressão magoada.
 

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