17 de dezembro de 2013

Nem sempre a lápis (462)

Memória descritiva
Lorca
No duerme nadie por el cielo. Nadie, nadie.
No durme nadie. Las criaturas de la luna huelen y rondan las cabañas...

...e em Guadix vislumbrei uma lua podre, cúmplice, com quem partilhei a sombra e um viño de Verano, pelas bodegas de Jaén.
Apátrida, irremediavelmente ibérico, enquanto o relógio de parede me dispensava o sono europeu da felicidade.
Comovi-me com Recuerdos de la Alhambra, como coisa minha, e acertei a alma pelos acordes de Tárrega.
Um guisado de rabo de toro chamou-me à realidade, mas persegui-lhe o resto do corpo pelo labirinto granadino das emoções.
Volúvel,
insone,
culpabilizado pela existência.
Um taxista explicou-me que “no duerme nadie por el cielo”, enquanto as ruas crepitam de criaturas lunares, sequiosas de sangue borbulhante que as embriague.
Hoje, Granada acolhe o rio num leito de betão, e partilha comigo a vergonha de ter matado um poeta, como a do Rei que me mataram.
Eu não sabia...
eu não sabia que o meu nome se pautava pela música de Falla, e um grito de Lorca.

2 comentários:

Ivone Mendes da Silva disse...

Farto-me de gostar deste texto.

fallorca disse...

Obrigado e bom Natal